12 de abril de 2006

"Certamente que as motivações de um cristão da massa são muito mais de ordem moral que metafísica. Este cristão define-se, antes de mais, pelo temor de um Deus antropomórfico, não obrigado por um determinismo intemporal, e, por conseguinte, como o próprio homem, senhor a cada instante dos seus actos e das suas respostas; um Deus sem plano preconcebido. Uma tal ausência de metafísica lança o cristão vulgar numa moral estritamente utilitária, atrás de vantagens ou de garantias pessoais no céu ou na terra (...) porque nesta fase de evolução, já não basta anatemizar o Mal para o fazer desaparecer; o sortilégio verbal, desvirtuado pelo uso excessivo, já não consegue obter a adesão. As dualidades são, daí em diante, verdadeiramente sentidas na carne e na alma. Esse cristão encontra-se dilacerado. Não consegue ver, na "queda", exactamente o elemento que condicionou a Criação, e continua a concebê-la como um acto contingente que compromete a sua própria responsabilidade. O seu pensamento, se não o seu corpo, está constantemente voltado para esta exasperação moralista da noção de pecado e leva-o a uma desconfiança profunda não só em relação ao mundo como a si próprio. Literalmente, isolando o Mal em si, e recusando-se a ver no Diabo uma criatura de Deus, os cristãos da massa divinizam-no. Dir-se-ía que o cristianismo vulgar actual foi inteiramente conquistado pelo maniqueísmo. Estes cristãos não compreenderam as palavras do Livro de Tobias: "E porque éreis agradáveis a Deus, foi preciso que a tentação vos pusesse à prova." Verifica a dualidade e alimenta-a precisamente com esse medo que se recusa a ser ponderado e, de certo modo, dissolvido pela inteligência." Raymond Abellio via de vagares ...

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