29 de abril de 2006

Crossing to the other side

O G. era um barmen de Camden Town. Camden Town é uma das zonas mais apaixonantes de Londres, por ser uma verdadeira cornocópia da condição humana. É algo que eu não vos consigo explicar, mas é algo que todos os que conhecem aquela parte da cidade reconhecem. Camden Town é o local da cidade de todas as amoralidades. É o sítio da noite por excelência.

O G. não era só um barmen era também um vendedor de ervas aromáticas muito especiais. Em camden isso não era nada fora do habitual, lembro-me que muitas vezes fazia a pé um pequeno trajecto entre duas estações de metro e me ofereciam Canabis três vezes. O G. foi expulso da Suiça aos doze anos por roubar um supermercado, arrastando com ele a família de regresso a Portugal. O G. vivia em Inglaterra porque como ele costumava dizer "Em Portugal o cerco [policial] se estava a apertar". Em suma o G. era um tipo com Curriculum Vitae.

O G. foi um dos meus melhores amigos em Londres. Isso não se discute. O G. era uma pessoa violenta (qualquer criminoso é violento) e perigosa, mas ao mesmo tempo G. tinha uma fragilidade enorme e muito própria que só as pessoas mais próximas conheciam. O G. para mim era uma espécie de filho adoptivo, é engraçado que um dia depois de uma conversa mais conturbada ele me perguntou se eu não gostava de ter filhos.

(Continua, espero eu)

2 comentários:

sabine disse...

Não sei o que te dizer... ja que dessa forma confessional dizes tudo.
Beijos

Anónimo disse...

Uma das pessoas mais meigas que conheci na vida é Skinhead, um arruaceiro de primeira.

Não raras vezes a agressividade não passa de um pedido de atenção e mimo. E mimo é o que mais falta no mundo egoista em que vivemos.

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