29 de abril de 2007

Dois pesos duas medidas, por Paulo Gorjão

«O PS, que fez um acordo pós-eleitoral com Isaltino Morais no executivo camarário de Oeiras, só renunciará aos seus mandatos se o presidente da Câmara for condenado.
(...)
O porta-voz [do PS], Vitalino Canas, afirmou ao [semanário] Sol (28.4.2007: 15) que o partido "não tem, por enquanto, posição oficial", remetendo o assunto para a estrutura local e subscrevendo a sua posição.
(...)
Emanuel Martins, vereador do PS [em Oeiras, membro da comissão nacional do PS, e presidente da comissão política concelhia de Oeiras], acha que a situação de Isaltino Morais já "foi referendada" nas últimas autárquicas. "Houve uma força que ganhou as eleições e que tem legitimidade para governar", defende o socialista, para quem a acusação de corrupção passiva, participação económica em negócio, branqueamento de capitais e abuso de poder (...) "não traz nada de novo".»
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Vamos por partes.
1. Em devido tempo aqui dei conta do meu incómodo com o posicionamento do PS em relação a Isaltino Morais (I, II e III). Para mim foi a gota de água que fez transbordar o copo em relação a José Sócrates. Adiante.
2. Não se trata de "uma questão da vida privada", como Emanuel Martins afirmou ao Correio da Manhã (22.4.2007). As acusações de que Isaltino Morais é alvo dizem respeito a factos que envolveram a Câmara Municipal de Oeiras, precisamente quando era presidente da autarquia.
3. Vitalino Canas esclarece que o PS não tem posição oficial. Pois não. Esse é o problema. Ao não ter posição oficial, tem uma posição informal que não o dignifica um milímetro e que pagará bem caro no futuro. Por um mísero punhado de feijões, refira-se.
4. Volto a Emanuel Martins. Não. Lamento contrariar, mas Emanuel Martins sabe muito bem -- e se não sabe ainda é pior -- que a situação não foi referendada nas últimas autárquicas. Nessa altura Isaltino Morais não tinha ainda sido formalmente acusado. Em 2005 Isaltino Morais era, muito simplesmente, arguido. Em suma, há aqui muito de novo, ao contrário do que afirma.
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Como qualquer pessoa sensata percebe facilmente, o posicionamento do PS em Oeiras fragiliza-o profundamente em Lisboa. Como é que o PS pode reclamar eleições em Lisboa quando Carmona Rodrigues, simples arguido, não foi ainda acusado de nada? Mais. Se o PS em Oeiras só abdica dos pelouros se Isaltino Morais for condenado -- e fica por saber se antes ou depois de esgotadas as instâncias de recurso... -- como é que em Lisboa pode agir de forma diferente, i.e. exigir a demissão de Carmona Rodrigues antes de uma eventual condenação?
Afinal, o que é válido em Oeiras também o será em Lisboa. Em Lisboa, como em Oeiras, "houve uma força que ganhou as eleições e que tem legitimidade para governar", ou não?

texto da autoria de Paulo Gorjão

2 comentários:

sabine disse...

Que PS! Que gente!

Unknown disse...

pois ...

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