Melhor do que não fazer nada durante uma semana inteirinha é fazer o que eu fiz: nada durante duas semanas inteirinhas.
Fui para fazer praia com os meus pais, mas acabei o dia inteiro no meu quarto.
No verão, sou homem de uma só ideologia: albinismo. Uso protector solar para crianças. Número 50. O mais eficaz que há. Potência máxima. Tipo lixívia em creme. Objectivo: sair mais branco do que aquilo que entrei.
A minha outra visão política durante a época, exige um máximo de indumentária a quem tem um mínimo de barriga (eu incluído) e um mínimo de vestes às virgens de Rafael que por estes dias andam mais cobertas do que as virgens suicidas.
Do meu quarto, de binóculos (que uso cá em casa só para apanhar algumas cenas da vida sexual dos meus vizinhos), vi gordos e pretos e adorei. Foi como ir a um parque exótico e ver toda a espécie de animais.
Sou hermafrodita comigo próprio, ainda assim, quase me vi envolvido num romance (quase, mas nem a acção sui generis tive direito).
Estava apaixonada por mim. Mas era uma paixão por exclusão de partes. É que a gaja era uma autêntica puta e já só sobrava eu.
Era egoísta, narcisista e extremamente invejosa, e nesse sentido dávamo-nos muito bem, só que também partilhávamos o bom tipo de futilidade e ela era demasiado nutrida de carnes nas nádegas e eu sou um homem muito bonito mas não se nota.
A entidade maternal desejou saber porque é que eu não lhe apresento nenhuma namorada. Duas razões. Primeira: sou um georgiano. Existe um Tiago-familiar que habita no mundo da família e um Tiago-social que habita no mundo das relações. Se eu lhe apresentar uma namorada, os dois mundos colidem e o Tiago, como a entidade maternal o conhece, deixa de existir. Segunda razão: não tenho namorada.
De tudo o que li desde muito novo, pelo menos uma coisa eu percebi: primeiro as gajas, depois a literatura. Por isso, dos cinco livros que acartei, li quatro, mas a culpa é das gajas que não valiam a ponta de um corno.
A mim não me bastam uns brutos tetões. Preciso de ser intelectualmente estimulado. É o chamado orgasmo cultural. Procuro um vastíssimo conjunto de informação factual num monólogo tipo Molloy com o arcaboiço ensaístico de um Steiner (um Allan Bloom em gaja), mas sempre menos inteligente do que eu. No fundo, procuro uma mulher boa, culta, mas burra. E quase sempre encontro uma destas qualidades. Normalmente, a última.
Enfim, não me dou com as mulheres. Acho que vou partir para gay.
(...)
Uma das mulheres que foi connosco, depois de duas horas a regatear a pretos, comprou uns saltos tão altos que usá-los, se não constituía uma tentativa de suicídio, era pelo menos um flagrante pedido de ajuda.
(...)
Também haviam casais de gordos. Gordo e gorda (o amor não é um esteta). E a mim enoja-me mais ver dois gordos a beijarem-se do que qualquer outra conjugação de géneros já de si bastante nojenta entre gente atraente.
(...)
De qualquer forma, passei a segunda semana doente (gripe, garganta inflamada) e os pais do miúdo preferiram que fosse dormir com eles. Já não passava o dia a dar directivas ao puto, mas como sou um Sísifo da queca mefistofélica divertia-me a tocar punhetas até à flebotomia aguda do meu pénis pequeno mas espadaúdo, delicado e com pintelhos ratados. Masturbava-me a tarde toda até ao orgasmo (exagero, na verdade, masturbava-me só até um pouco antes do orgasmo).
No final, as férias foram boas. Óptimas. Como um clister.
3 comentários:
Presenteou-me(nos) com um dos melhores posts que li nos últimos tempos. Que excelente sentido de humor, apuradinho, apuradinho...
PS. A culpa nunca é das gajas... neste caso os livros é que eram bons.
"PS. A culpa nunca é das gajas... neste caso os livros é que eram bons."
É com agrado que constato que a Maria está a fazer progressos. Mais um mesinho e estamos os dois transformados em dois misóginos complestos.
Já estive mais longe,já, já....
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