6 de julho de 2007

A série Rome segundo Luís Naves

A TV passa uma genial série, Roma, onde a violência está de tal modo integrada na história, que faz sentido. Acho que a série tem um argumento impressionante, muitíssimo bem feito, com personagens desenhadas ao pormenor, de enorme riqueza de nuances psicológicas. Mas o que me fascina, nesta série de TV, é a forma como os argumentistas falam de nós, parecendo que nos contam uma história sobre o fim da república romana e a guerra civil que levará ao império. (Não posso deixar de referir a excelência deste programa, dos actores à realização, passando pelo texto, os figurinos, gráficos ou fotografia).
O fundo histórico é um pretexto (e nem me refiro aos erros). O que é ali importante é a exibição da ira contemporânea, cuja origem não é de todo clara.
Não assenta na divisão em classes, pois todas as classes a possuem na mesma proporção. Não é o hedonismo dos ricos, pois também os miseráveis são cruéis. Não tem a ver com a natureza humana, pois tanto os bons e inocentes, como os maus e hipócritas, adoram a violência e vivem na violência.
Mas atravessa toda aquela história um lugar comum da ira: a ausência de valores. O único verdadeiro idealista, o judeu Timão, após uma carreira de matança insensata, tenta libertar-se do horror, mas tragicamente sem o conseguir. É o único que o tenta fazer, nesta história sobre o poder e a traição, sobre ambições sem limites e o elaborado acaso. Roma é um espelho do mundo contemporâneo, que também se debate numa espécie de guerra civil: vive numa crise insondável, com nostalgia de um passado feito de heróis destemidos e honrados. Um passado inatingível. É um mundo sem esperança, que desconhece ainda estar a criar a sua própria destruição.

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