31 de março de 2007

Diz-me em que blogues andas a clicar mais do que um avez por dia e eu dir-te-ei quem és.


Em 2001 foram publicados pela primeira vez os resultados dos exames de acesso à Universidade em função da escola secundária frequentada. São chocantes, em particular no que diz respeito à amplitude da diferença entre as notas de frequência escolar e na prova nacional. Na disciplina de Português essa diferença varia mais de 11 valores em função da escola frequentada; em Matemática varia 10 valores.

Em média, os alunos que frequentaram a escola A obtiveram 13 valores a Português na frequência escolar e 16 valores na prova nacional; os que frequentaram a escola B obtiveram 13 valores na frequência e 5 valores na prova nacional. Em Matemática, os alunos da escola C obtiveram em média 13 valores de frequência e 13 valores na prova nacional, ao passo que os da escola D, com 15 valores de média de frequência, obtiveram 5 valores na prova final. Estes dados são factuais e relativos a escolas com mais de 15 alunos examinados: as escolas A, B, C e D são reais; só por ser totalmente inútil não dou aqui os seus nomes. Os alunos que as frequentaram são seres humanos reais, hoje perto dos 22 anos. Uns licenciados ou quase, outros não.

O que estes dados revelam é que é falsa a ilusão utópica de que o sistema educativo se auto-regula. A prática mostra precisamente o contrário. Entregue a si próprio, sem mecanismos de controlo que permitam monitorizar periodicamente o desempenho dos alunos e, indirectamente, o funcionamento do sistema, este entra em roda livre. Escolas, professores e alunos problemáticos podem passar despercebidos ao longo de todo o percurso escolar por não haver um processo externo de avaliação. Os próprios alunos mais fracos podem nem se aperceber das suas carências até ser demasiado tarde.

Tudo isto além, evidentemente, das enormes injustiças académicas quando está em causa o acesso ao Ensino Superior. Alunos de escolas medíocres, com professores que disfarçam a falta de condições ou de competência com o inflacionamento das notas ultrapassam nas candidaturas os alunos que frequentam escolas mais sérias e com professores mais exigentes. Os alunos que admitimos nas Universidades não são necessariamente os melhores; para ter “sucesso”, mais importante do que uma sólida preparação académica é frequentar uma escola de fraco nível de exigência mas generosa nas notas. Há muitos alunos (conheço dezenas de casos reais) que abandonam as escolas de elevado grau de exigência onde estão no final do 9º ano ingressando em escolas públicas conhecidas por inflacionar as notas para poder aceder ao curso que ambicionam (Medicina, por exemplo) e a que não poderão aceder alguns que optaram por ficar na mesma escola e trabalhar mais duramente.

É esta mensagem de facilitismo e de esperteza saloia que estamos a transmitir aos nossos jovens na escola: mais vale ser espertalhão do que inteligente, mais vale dar o golpe do que trabalhar. Vale fazer batota: os fins justificam os meios. E admiram-se que estes seres humanos, anos mais tarde, quando forem adultos sejam cidadãos que considerem normal a fuga aos impostos? É esta a "cidadania", como dizia o Desidério, que queremos transimitir? Seria uma boa piada, se não fosse acima de tudo tristíssimo.

Este é um dos problema central no nosso ensino. Um dos instrumentos que permite corrigi-lo é aplicado pela maioria dos nossos parceiros europeus: são os exames nacionais, com consequências, no final de cada ciclo de ensino. Mas a intelligentsia da Educação Nacional, até há bem poucos anos, queria acabar com os exames do... 12º ano! Nas palavras de um ex-ministro da Educação, "salvei-os porque disse que me demitia". Espantoso!
E há outro aspecto ainda de que as pessoas raramente se apercebem: sem exames nacionais os próprios autores de manuais não se sentem na obrigação de cumprir os programas, porque sabem que os professores não ligam muito a esse pormenor sem importância. No caso dos manuais de filosofia, que são os que conheço bem, entrou um novo programa em vigor em 2001. Contudo, os manuais para esse novo programa são muitíssimo mais parecidos aos manuais antigos do que ao novo programa. Claro, se os próprios professores não ligam ao programa, para que raio irão os autores perder tempo a mudar os manuais para cumprir cuidadosamente o programa? Escrever um manual dá muito trabalho.

Sem exames nacionais um professor pode leccionar apenas o que lhe apetece, e portanto não sente qualquer pressão para escolher manuais que cumpram o programa. Na maior parte dos casos, o professor nem sequer conhece o programa, precisamente porque toda a avaliação é interna. Pode passar o ano a falar de colmeias neo-zelandesas e depois avalia os estudantes como lhe apetecer. E o problema é que os professores e as escolas verdadeiramente bons, que são exigentes e cumprem os programas, não têm qualquer estímulo para o fazer — e até tendem a perder alunos.
Desidério Murcho

Na verdade eu só pu bliquei o post do Jorge Buescu e o comentário do Desidério Murcho para mostrar as belas cábulas que ilustram este post.


Blogar é um exercício de strip tease (em sentido metafórico). Eu sou uma ganda melga, mas juro que ainda não percebi a necessidade de certas pessoas em justificarem as suas saídas do palco.

Mesmo no strip tease os orgãos genitais não se mostram (necessariamente). Como Schopenhauer explicou os orgãos genitais são vontade* materializada.

(* "Vontade" funciona aqui como a minha tradução [livre] do inglês "will" do título "The world as will and idea". Note-se que Schopenhauer dominava com mestria quer o Inglês quer o Alemão mas optou por escrever "The world as will and idea" em Alemão. A escolha terá sido acertada se tivermos em conta que o seu trabalho exerceu grande influência sobre Nitzsche e Sigmun Freud.)

Doutores e engenheiros

(...) posso assegurar que alguns dos nossos melhores matemáticos são mulheres. Algumas bastante belas, de acordo com os cânones passados ou actuais, se é que isso interessa.

Como muita gente e muito bem já defendeu as mulheres da acusação de ignorância, mas ainda ninguém defendeu os mestres, não tanto da acusação de fealdade mas mais da de maldade que está implícita no título português (um monstro é não só feio como mau!), venho eu defendê-los. Apesar de não ter o grau de mestre, tenho o de doutor, e sinto-me metido no mesmo saco.


Doutor Carlos Fiolhais


O que me espanta é a forma como certas pessoas tão indiferentes a beleza física atribuam tanta importância a outras distinções ...

pequenos prazeres

Contemplar o céu estrelado numa noite fria de primavera.

30 de março de 2007

"The core of the belief in progress is that human values and goals converge in parallel with our increasing knowledge. The twentieth century shows the contrary. Human beings use the power of scientific knowledge to assert and defend the values and goals they already have. New technologies can be used to alleviate suffering and enhance freedom. They can, and will, also be used to wage war and strengthen tyranny. Science made possible the technologies that powered the industrial revolution. In the twentieth century, these technologies were used to implement state terror and genocide on an unprecedented scale. Ethics and politics do not advance in line with the growth of knowledge – not even in the long run." — John Gray from the essay ‘Joseph Conrad, Our Contemporary’ in Heresies (retirado daqui)

29 de março de 2007

Epígrafe para a arte de furtar (roubam-me Deus)

(Poema de Jorge de Sena interpretado por Zeca Afonso)

Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei

Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam

Quem cantarei
Quem cantarei

Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei.

26 de março de 2007

Anónimo

Eu ainda hei de escrever um blogue anónimo, ou melhor, dois blogues anónimos. Um é erótico, o outro é sobre os meus pesadelos.

Pensando bem talvez consiga fazer a coisa só com um blogue.

"O mundo Perfeito" - Parabéns

Os meus parabéns à Isabela pelos magníficos textos com que nos tem presenteado durante estes dois anos d'O mundo perfeito

25 de março de 2007

Povo que lavas no rio

(letra de Pedro Homem de Melo frequentemente ouvido na voz de Amália Rodrigues)

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
A água pura, puro agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de luz e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Estranha forma de vida

(letra de Alfredo Duarte e Amália Rodrigues)

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

Da sensibilidade

(Mais um testo da autoria do Francisco "Paradoxo" Bairrão)

Se há pessoa que pode ser considerada insensível sou eu. Não estou a brincar. Ask around. Everyone will tell you. E eu concordo. Não estou a ser irónico. Aliás, é trágico.

O problema está, obviamente, em mim. Eu tenho um problema de personalidade: não tenho personalidade. Não é uma coisa nada agradável, embora, como tudo, tenha as suas vantagens. No entanto, as desvantagens superam-nas claramente. Daí ter decidido iniciar terapia. Após anos de procura e tentativas por outros caminhos - recorri, inclusivamente, à astrologia - resolvi procurar ajuda profissional e científica.

Não ter personalidade torna uma pessoa insensível porquê, poderão perguntar-se os mais distraídos. Bem, a resposta é simples: para o conceito de sensibilidade coloquial, usada no dia-a-dia, ter uma personalidade é fundamental. Não importa se é boa ou má (até porque, como se verá adiante, isso é relativo), o que importa é que se tenha uma personalidade. É que, you see, a personalidade é o centro de imputação da sensibilidade.

Pense-se na expressão banal: "aquele tipo é tão insensível" (muitas vezes usada a meu respeito, by the way). A primeira coisa em que devemos pensar é na questão prévia - na vida tudo depende das questões prévias, não sei se já repararam - e a questão prévia é: o tal tipo insensível é insensível para quem? (o porquê vem logo a seguir e tornar-se-á óbvio).

Basicamente um tipo é insensível quando não conforma o seu comportamento de modo a não magoar os sentimentos de outra pessoa. Daqui decorre uma outra questão prévia interessante e muito importante: se alguém é insensível isso pode derivar de duas causas distintas:

1. Compreendeu os sentimentos da outra pessoa mas por alguma razão não pode conformar o seu comportamento de forma a não a magoar;

2. Não compreendeu os sentimentos da outra pessoa e, logo, não viu qualquer razão para ter de conformar o seu comportamento de forma consentânea.

O que é curioso no uso do termo "insensível" na linguagem quotidiana é que, reparem nisto, ele é usado tanto em 1. como em 2., o que não deixa de ser estranho e terrivelmente problemático.

Em bom rigor, o insensível é apenas o do caso n.º 2. E como eu o invejo. Eu adorava ser insensível no verdadeiro sentido da palavra. Pá, eu dava dinheiro, eu dava um braço. Eu, pensando bem, era capaz de vender a minha mãe só para ser o insensível puro do ponto 2.

O insensível puro é o happy-go-lucky das histórias, é o joane vicentino, é o néscio proverbial. De bem ou de mal com a vida ele não entra em contacto com esse oceano escuro, onde, por vezes, nenhuma luz penetra, que são os sentimentos alheios. A sua sensibilidade não está para aí virada. Ele, na melhor das hipóteses, sente o fragor das árvores, o aroma dos frutos, o cheiro dos animais, algum monóxido de carbono dum Ford Cortina e pouco mais. Não há cá sentimentos alheios e mesmo os seus fluem como se claridades translúcidas se tratassem.

Poder-se-á pensar que este insensível puro é fruto de uma total ausência de personalidade, como aquela que referi a meu propósito no início do texto. Nada de mais errado. Pelo contrário. O insensível puro é alguém com uma personalidade vincada e firme, com todos os contornos bem delineados. E por isso é que, para o bem e para o mal, está lá dentro e os outros estão lá fora e não há confusões de sentimentos e coisas, excepto o ocasional (ou não) sexo.

Felizmente para a paz na terra e a concórdia entre os Homens, perdão, entre o Ser Humano, o insensível puro é uma minoria. A maioria das gentes encarna um tipo intermédio com uma personalidade delineada, com uma sensibilidade mais ou menos receptícia, com a ocasional perturbação, assomo, paixão, revolta, inveja, melancolia, provocadas por eventos exteriores. A lembrar a famosa definição de amor dada por Espinosa, que dizia ser esta uma forma de prazer provocada por uma causa exterior. Bonito, não?

O que fazer, portanto, com o ponto 1.? O que fazer com os casos em que o tipo agiu de forma insensível mas não é, em verdade, insensível? E é aqui que há uma total difusão de opiniões e reacções, conducente ao mais assustador branqueamento dos sentimentos.

Digamos que conseguimos sentir como se sente A. em relação a B; digamos que estamos aqui a falar de sentir no único sentido possível, o da parede azul; isto é, digamos que A. tem toda a liberdade para (se) sentir de certa forma em relação a B. e que, apenas por ter essa liberdade, os seus sentimentos são, necessariamente, verdadeiros.

Agora imaginemos que conseguimos sentir o que B. sente em relação a A. que por sua vez tem muito que ver com a sua relação com C. e D., que também conseguimos compreender; imaginemos, que neste caso, se aplica a mesma fórmula, isto é, apenas por ter a liberdade total de sentir o que quiser em relação a A., os sentimentos de B. são, necessariamente, verdadeiros; imaginemos, por fim, que os sentimentos de A. e B. são contraditórios; isto é, para um mesmo espaço-tempo (vamos imaginar: a cidade de Lisboa, 2006) os comportamentos derivados dos sentimentos de A. e B. em relação a cada um e ao outro são antagónicos.

Sentir e compreender isto tudo a propósito de A. e B. é insensível? Diria que não. Muito pelo contrário, diria até que é de uma empatia hipersensível. Mas, infelizmente, ao fim do dia, isso não resolve nada.

A verdade é que A. e B. continuarão com os seus sentimentos e, pelo facto de serem livres de os sentir e de, por isso mesmo, os considerarmos verdadeiros, devemos considerá-los atendíveis. Isto é, não podemos escapar ao problema tentando tirar da equação A. ou B..

Eles têm os dois sentimentos e merecem os dois ser compreendidos. Claro que X, que somos nós, temos de nos comportar de alguma maneira em relação a A. e a B. porque, neste exemplo, A. e B. não são apenas duas personagens de um filme de onde saímos ao fim de duas horas e fica tudo bem, não, A. e B. neste exemplo, vamos imaginar, são duas pessoas que conhecemos e com quem convivemos continuadamente. O que fazer?

Num certo sentido não interessa, pois a partir do momento em que A. e B. têm sentimentos antagónicos até o não fazer nada, ao fim de um certo tempo, pode ser considerado insensível. Isto apesar de a) X, que somos nós, não ser insensível num sentido puro (como em 2.) e b) compreender as duas posições emocionais em confronto. Basicamente, neste exemplo, o X 'tá lixado. Vai ser insensível quer queira quer não.

O X pode ainda fazer outra coisa. Sempre na linha da parede azul, o X pode resolver o dilema aparentemente inultrapassável tornando-se insensível. E porquê. Porque ser insensível no sentido puro do termo, tal como o temos aqui utilizado, permite determinar um comportamento. Como? X. actuará de acordo com a sua vontade autonomamente determinada. Isto é, não ficará à mercê dos sentimentos alheios (ou dos seus sentimentos vs. sentimentos alheios).

Perguntar-me-ão como é isso possível? E a minha resposta é cautelosa. Não é fácil. Aliás, os casos de insensibilidade coloquial (o tipo do ponto 1. para distinguir do insensível puro do ponto 2.) andam sempre confundidos com casos de hipersensibilidade. São pessoas que não têm uma personalidade definida que lhes permita uma sensibilidade intermédia. Desse modo não têm mecanismos de escolha natural, entre A. e B., por exemplo. Porque essa é que é a verdadeira questão. Nós somos sempre insensíveis para alguém, quer queiramos quer não. Só que na maior parte dos casos - os sensíveis intermédios - temos mecanismos automáticos e quase inconscientes de escolher o lado de A. ou B.. Num certo sentido, preferimos compreender A. ou B. ou, compreendendo os dois, preferimos conformar o nosso comportamento a favor de A. ou B.

O insensível coloquial, de tipo 1. não consegue fazer isso em sociedade, por inter-relação com os outros, nomeadamente com A. ou B.

Para ele a escolha é tão difícil, mesmo em casos aparentemente banais, que ele prefere, por achar mais justo e menos insuportável para si próprio, recorrer a mecanismos de determinação autónoma, não racional. Ou, pura e simplesmente, desistir de decidir. Isto porque a razão, quando confrontado com este problema não oferece solução, identifica um impasse. Perdoa, Espinosa. Estamos perante casos que podem ir desde o autista que desligou o mundo por não suportar os sentimentos que daí recebia, até ao místico que entrega as suas decisões a um Poder Superior. Ou quem sabe, Espinosa, que dizia não haver Bem nem Mal universal e que o Mundo era como tinha de ser e Deus está em toda a parte, em todas as coisas.

O meu ponto é simples: compreender A. e B. neste caso, compreender as pessoas em geral, pode não servir para nada quanto ao comportamento que devemos tomar, quer em relação a elas, quer, mais importante, em relação a nós (caso que deixei propositadamente por tratar).

Claro que nada disto se aplica a mim.

Pode acontecer que o sujeito, leia-se eu, perceba mal os sentimentos de alguém por um erro de palmatória, por achar que a pessoa em causa, A., por exemplo, era parecida consigo. Este erro não tem desculpa porque o sujeito X, leia-se eu, devia saber que, de acordo com o princípio da parede azul, ninguém é como ninguém. E daí que a única coisa certa em termos de comportamentos determinados por sentimentos é nunca nos tomarmos como referência para sentir os outros, mas apenas para nos determinarmos um comportamento. Pelo menos se estivermos a falar de um tipo 1.

20 de março de 2007

Alguém me explica:

porque é que pedagogia rima com demagogia?

19 de março de 2007

A idade da inocência

(texto da autoria de Francisco "Paradoxo" Bairrão)

Creio que a minha acabou, completa e pura - agora só inocências, não mais Inocência - quando arruinei uma das minhas certezas mais antigas.

Esse dia, que não consigo precisar, mas que existe em mim como um dia definido e claro, foi aquele em que descobri ser mentira podermos continuar de bem com o Outro, para lá do momento em que deixamos de querer estar com ele.

Tinha até esse dia a ideia - que hoje percebo pueril e estúpida - de que as pessoas que se odiavam, que se deixavam de falar, que se estranhavam - tinham razões para isso. Tinham feito mal uma à outra, ou uma a outra; tinham(-se) traído, tinham sido cruéis, tinha, enfim, praticado o Mal. E, então, luminosamente - mas uma luz coada, basilical - descobri que isso era mentira. O problema não estava no Mal - que, aliás, dificilmente surge nas humanas questões, aí só pequenos males - estava no equilíbrio, no vazio.

Se o Eros grego é a mais bela invenção (revelação?), enquanto Deus-Fiel autogerado, é ele que explica que seja impossível manter o estado de coisas, a bondade, quando com as nossas decisões alteramos o equilíbrio (que ajudámos a formar) e provocamos o vazio. Estas conclusões levaram-me a uma conclusão final:

a partir do momento que nos envolvemos com alguém está lançada a semente do fim. Deal with it. Não há caminho de regresso. Será tanto pior quanto mais tempo passar e mais se viver e partilhar. E pode haver excepções. But make no mistake, não é possível prosseguir incólume.

Mas este não foi o momento decisivo da minha mácula. O que realmente me deixou de rastos foi perceber que havia quem não se incomodasse com isso. Pelo menos, não da mesma forma, dilacerante, com que até hoje esta questão me perturba.

Amigos tenho que explicam o que acabei de dizer com uma limpidez e uma serenidade incrível. Explicam que quando temos de partir, se é isso que sentimos ter que fazer, e que fazemos de forma honesta, não podemos arcar com o sofrimento do Outro. Porque é disso que se trata. Ninguém me tinha dito que mesmo que não fizessemos mal a ninguém, que apenas quisessemos prosseguir a nossa vida de forma díspare, seríamos culpados pelo sofrimento de alguém. E, de uma só penada, descubro que isso não é verdade; e que há gente que não sente essa culpa.

Direi isto: sempre que nos envolvemos com alguém há uma promessa ímplicita, velada. Potencial. Podemos negá-la. Podemos acordar na sua não existência. Podemos fugir dela. Mas ela não deixará, por nenhum destes expedientes, de existir, se assim tiver de ser. E aqui o ser é o sentimento. Por vezes esquecemo-nos disso, que as coisas existem mesmo quando são imateriais, mesmo quando vão contra a razão. Mesmo - sobretudo - quando são emoções.

Como lidar com isto? Em face do quadro que pintei pareceria haver uma única solução, uma única máxima: não me dar com ninguém, não magoar ninguém. Já estive mais longe de pensar que a dimensão drástica, trágica e lírica supera largamente a dimensão sensata e higiénica desta opção.

Outra solução possível seria tentar ser como aqueles que mencionei em cima. Conseguir não sentir que mesmo as decisões que a mim me parecem correctas, necessárias, honestas são geradoras de dor que nunca pretendemos. Se isto é possível estou longe de descobrir como se faz.

A verdade é que estou longe de descobrir como se resolve este dilema. Este texto não era sobre a resolução do problema. Era sobre a sua origem e as suas manifestações.

Ainda a questão das decisões:

primeiro estranham-se depois entranham-se ...

14 de março de 2007

Decapitar o Casanova



Eu juro que um dia destes decapito o cabrão do Casanova.

Só tenho que decidir que cabeça lhe vou cortar ...

... mas chera-me que já tomei decisões mais difíceis.

Almoço no Oeiras Shopping!

Hoje resolvi almoçar no Oeiras Shopping. Lá fui eu ao Bull Dog (que raio de nome). As empregadas brasileirinhas sempre deliciosas. Qual será o orkut delas?

Fui para a esplanada e sentei-me à frente do decote mais generoso (que só por acaso não era o da Cindy). A senhora trazia um carrinho de bebé, mas conforme se sabe eu considero o carrinho de bebé o acessório erótico essencial para qualquer mulher completa.

O Vasco voltou em grande à Memória Inventada

Nos regressos ao país há a explicação oficial, a explicação íntima e a explicação verdadeira. É raro coincidirem. A explicação oficial seria algo como: regresso porque tenho saudades da família, da namorada, dos amigos, de Lisboa, de Portugal. Ou uma explicação oficial mais poética: regresso porque em nenhum outro lugar a minha memória é tão afagada quotidianamente. Ainda oficial e algo pacóvia: regresso porque tenho um futuro mais promissor em Portugal. A explicação íntima, que se partilha com um ou dois confidentes, geralmente é uma versão das anteriores mas com o elemento da dúvida. E a explicação verdadeira eu não sei qual seria.

A explicação oficial é quase sempre profundamente mentirosa. Não chega a ser imoral, sobretudo se é em resposta a uma pergunta. Quando em vez de "mete-te na tua vida" se diz "voltei porque o país precisa de mim", o que é uma mentira que nos cobre de ridículo, preserva-se alguma boa educação. Não tem muita importância. Pior é quando se responde que se regressa por causa de uma pessoa. As intenções até podem ser as melhores e por vezes é verdade, mas ninguém tem de suportar o fardo do retornado. Dizer que se regressa por uma pessoa é torná-la refém dos nossos fracassos futuros, uma profunda injustiça e um erro estratégico. Esta é a explicação verdadeira que nunca pode passar a explicação oficial e que nem na intimidade se deve arriscar.

Parte da motivação para regressar explica-se simplesmente pelo desejo de mudança. Nunca se regressa para o mesmo, ainda que seja o mesmo lugar. Há também sempre um lado de desesperança, de desistência, sobretudo para quem realmente saiu e em alguma altura considerou não voltar. A mágoa do salto que fracassou deve ser mais pesada que a frustração de nunca se ter sequer tentado o salto, mas agrada-me pensar que o instinto de sobrevivência mais depressa faz esquecer a primeira do que a segunda.

Haverá talvez uma lista de razões para se regressar, mas só um espírito pateticamente organizado as sente somando uma a seguir a outra. Isolar a razão verdadeira, que nunca é cumulativa, é algo que tenho enorme dificuldade em concretizar. Também foi assim quando saí. Ainda hoje não sei por que motivo o fiz; se calhar por simples imitação, pois era o que se fazia na altura, como agora sucede com os meus amigos que regressam. É claro que o ego não se conforma e procuro outra razão, vasculhando entre o que é pouco nobre e o que é prosaico. Ter saudades, por exemplo, é genericamente prosaico. Mas ter - por hipótese - saudades de açorda alentejana até não me desagrada, não me compromete nem compromete outros. E é verdade que tenho saudades de açorda alentejana, mesmo que não seja a explicação verdadeira. Para quê complicar mais? Sim, volto. Volto pela sopa.


E que tal mudares o nome do blogue para "A Verdade dos Factos"?

Aulinhas de escrita cirativa

"Espero que esta missiva te encontre bem.

Por favor deixa-me ir-te ao cu (só mais uma vez). Eu até podia fazer a coisa de vagarinho, mas sabes bem que curto mais à bruta.

Mas vê lá, sabes bem que depois de eu te ir ao cu (só por mais uma vez) quem tem o direito de ficar com cara de quem levou no cu e não lhe pagaram sou eu."

É basicamente este o tipo de emails que recebo dos meus "caros" colegas, a vida é assim um homem tem que se adaptar. Isto a um domingo à tarde sabe que nem ginjas.

Só é pena que eu tenha o hábito de perguntar (muito a despropósito) "What kind of credit will you give me?"

11 de março de 2007

As mudanças dos mortos

Este fim de semana estou a trabalhar na estiva, isto tudo porque um familiar meu decidiu fazer uma mudança.

A minha experiência confirma-se, à mudança de caixotes no mundo físico corresponde sempre a mudança de ciaxotes na nossa cabeça. No caso em apreço o que o movimento dos caixotes na minha cabeça me diz é que há certos assuntos que começam a estar mais ou menos arrumados na minha cabeça (desde o Natal que tenho sentido isso). Já não era sem tempo, já lá vão quase dois anos.

da ansiedade e do evitamento das benzodiasepinas

Estou convertido ao café soluvél, isto está tão mau que hoje só deitei uma colher de chá de café.

O choque das civilizações



10 de março de 2007

O Paulo Pinto Mascarenhas até tem bom gosto ...





Só é pena dirigir a Atlântico e não a Maxmen ...

9 de março de 2007

"Tu gostas é de quem te dê resposta a tudo"

(Eu acho que isto não é nenhuma inconfidência, e mesmo que fosse ...)
Eu: Eu agora não tenho lido o 5 dia, e nunca comentei muito
Ele: tu gostavas era do aspirina, e do bde, e de quem te desse resposta a tudo :)

Eu ainda hei-de voltar a este assunto, quem sabe a propósito de outros blogues ...

Leitura recomendada

Este post da sabine sobre a violência sexual sobre as mulheres.

8 de março de 2007

O local de trabalho

O local de trabalho a mior parte das vezes é como o local de um acidente de automóvel: todos sabemos que temos vontade de chamar filhos da puta uns aos outros, mas a cordialidade salvo interessantes e excepcionais momentos é a melhor opção.

"I need a thesis about the subject posted above in 3 days. More information will be provided to the winner."

Orçamento: 30 a 100 USD.

Realmente visto deste ponto de vista a FCT anda a queimar dinheiro a um ritmo alucinante ...

Perante o estado a que o mundo chegou só nos resta realmente gozar o pagode!

6 de março de 2007

Ouve lá ò meu grande cabrão, só por seres accionista maioritário jusgas que podes mudar o cabeçalho à tua vontade sem pedir opinião?!

Que merda é essa de não aceitares pagamentos em género? Eu não concordo com essa merda, se fosse eu mandar nesta merda, eu só aceitava pagamentos em género!

P.S.: A minha área de especialidade é a escrita erótica de segunda qualidade. E das áreas mais bem pagas. Este cabrão [o Luis Oliveira] é que não se mete nisso porque acha que no fundo essa merda é uma exploração das mulheres ... nunca vai passar da cepa torta! E é bem feito!

Há trabalhos que só me inspiram os seguintes termos:

(na verdade nem são bem trabalhos são mais "trabalhinhos")

"derilection of duty"
"procastination"

5 de março de 2007

Um colega meu atarefado

Há um jovem que todos os dias religiosamente, mais ou menos à mesma hora, deposita mensagens nos posts de Julho de 2006 com o seguinte conteudo.

" Best regards from NY! ativan and celexa Black lesbians video clips penis and scrotum pictures Nokia 3595 ringtones Foothill dental hygiene Big titties free site fotos de penes grande Teens getting hardcore pain relief herbs Create your mate penis http://www.infinitilicenseplatecover.info Audi tt cars for sale "

Eu com as minhas actividades de freelancer sei que a vida deste senhor é dura, vive provavelmente com um dolar por dia, e tem a família toda a postar comentários deste calibre em 2000 blogues por dia. Reparem como ele é cuidadoso: neste meu humilde tasco põe apenas um comentário por dia, praticamente não é um spamer ...

Alguém tem a bondade de o avisar que é melhor ideia pôr os comentários nos posts mais recentes?

Ainda da vida de um ghost writer

Um gajo espera que o cliente entenda um mínimo dos mínimos do assunto que é objecto da encomenda para sua protecção. Mas não o cliente é tão estúpido, tão estúpido, que o ghost writer prefere tomar decisões sozinho e rezar aos santinhos que tudo corra bem.

Basicamente é como fazer uma tese de doutoramento em certos sítios.

Da vida de um ghost writer

Eu sou um gajo imaturo, mas é sempre com espanto que constato que há gajos mais imaturos do que eu.

4 de março de 2007

Não sei, talvez não seja assim tão mau ... sou gajo para experimentar!

"This adherence to KISS (Keep It Simple, Stupid) principle has made PHP popular as a prototyping and rapid application development tool for web applications."

Antes que venham com cenas a key word é "KISS".

Notícias de última hora

"The large majority of server-side scripts are related to either getting information from the user and saving it somewhere, or retrieving information from somewhere and presenting it. This «somewhere» is usually an animal called a database, and if you're all serious about building usefull web applications, you're going to need to make freinds with it."

Afinal as 144 páginas não são 144 páginas, não me arrisco a voltar para o índice.

Da decadência blogósférica meteórica

Duas leitoras minhas tiveram a generosidade de me oferecer livros pelo Natal. Constato estupfacto que os dois livros foram ultrapassados (à Lagardére e pela direita) por um crash-course em PHP e mySQL de 144 páginas que termina com um exemplo entitulado "How to built a shopping cart".

Assumo que este é provavelmente o post menos sexy que já escrevi.

A gerência reestabelecerá o padrão de serviço que é o orgulho deste blogue, assim que as contingências do mercado de trabalho deixarem de operar sobre o seu autor da forma que estão a actuar.

Nota editorial: A gerência - ou a falta dela - agradece a correcção ortográfica do Santiago.
A partir de agora o Santiago fica nomeado o conselheiro deste blogue para questões relacionadas com a língua francesa. Para o latim já temos conselheira, mas isso nós não podemos revelar.

3 de março de 2007

Da profilaxia do pecado

A melhor profilaxia do pecado é o autoconhecimento, e a escolha criteriosa dos pecados que cometemos.

1 de março de 2007

O marketing ...

... é a arte de mentir com os dentes todos sem desmachar o sorriso.

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