Em média, os alunos que frequentaram a escola A obtiveram 13 valores a Português na frequência escolar e 16 valores na prova nacional; os que frequentaram a escola B obtiveram 13 valores na frequência e 5 valores na prova nacional. Em Matemática, os alunos da escola C obtiveram em média 13 valores de frequência e 13 valores na prova nacional, ao passo que os da escola D, com 15 valores de média de frequência, obtiveram 5 valores na prova final. Estes dados são factuais e relativos a escolas com mais de 15 alunos examinados: as escolas A, B, C e D são reais; só por ser totalmente inútil não dou aqui os seus nomes. Os alunos que as frequentaram são seres humanos reais, hoje perto dos 22 anos. Uns licenciados ou quase, outros não.
Tudo isto além, evidentemente, das enormes injustiças académicas quando está em causa o acesso ao Ensino Superior. Alunos de escolas medíocres, com professores que disfarçam a falta de condições ou de competência com o inflacionamento das notas ultrapassam nas candidaturas os alunos que frequentam escolas mais sérias e com professores mais exigentes. Os alunos que admitimos nas Universidades não são necessariamente os melhores; para ter “sucesso”, mais importante do que uma sólida preparação académica é frequentar uma escola de fraco nível de exigência mas generosa nas notas. Há muitos alunos (conheço dezenas de casos reais) que abandonam as escolas de elevado grau de exigência onde estão no final do 9º ano ingressando em escolas públicas conhecidas por inflacionar as notas para poder aceder ao curso que ambicionam (Medicina, por exemplo) e a que não poderão aceder alguns que optaram por ficar na mesma escola e trabalhar mais duramente.
É esta mensagem de facilitismo e de esperteza saloia que estamos a transmitir aos nossos jovens na escola: mais vale ser espertalhão do que inteligente, mais vale dar o golpe do que trabalhar. Vale fazer batota: os fins justificam os meios. E admiram-se que estes seres humanos, anos mais tarde, quando forem adultos sejam cidadãos que considerem normal a fuga aos impostos? É esta a "cidadania", como dizia o Desidério, que queremos transimitir? Seria uma boa piada, se não fosse acima de tudo tristíssimo.
Sem exames nacionais um professor pode leccionar apenas o que lhe apetece, e portanto não sente qualquer pressão para escolher manuais que cumpram o programa. Na maior parte dos casos, o professor nem sequer conhece o programa, precisamente porque toda a avaliação é interna. Pode passar o ano a falar de colmeias neo-zelandesas e depois avalia os estudantes como lhe apetecer. E o problema é que os professores e as escolas verdadeiramente bons, que são exigentes e cumprem os programas, não têm qualquer estímulo para o fazer — e até tendem a perder alunos. Desidério Murcho
Na verdade eu só pu bliquei o post do Jorge Buescu e o comentário do Desidério Murcho para mostrar as belas cábulas que ilustram este post.


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