28 de maio de 2005

Caes e gatos ...

... pelo Puto Paradoxo

"Antecipo para os Putos um texto que pensava escrever no Límpida. É um case study. É um exemplo. Dá-se o acaso de, como se anuncia no título, ser um taxómano, ou seja, maníaco por taxinomias. Simplificando, tenho a mania. Melhor dizendo adoro classificações. A classificação, a distinção, a ordenação são as operação intelectuais que mais me estimulam. São o espelho da razão: podem servir para muita coisa mas sem um fim interessante (ou com um fim desviante) não servem para nada. Era disto que falava Kant quando escrevia sobre as antinomias da Razão (este texto, sim, é que deixarei para o Límpida).

E, até agora, nada de cães e de gatos. Vamos a isto. A razão da antecipação, antes de mais, tem que ver com dois posts. Primeiro do Alexandre, depois da Sofia . É que o Alexandre e a Sofia falam de Cães e Gatos. Eu pretendo falar-vos dos donos dos mesmos. Vamos a isto. Aqui começa a taxomania. É que um bom taxómano, quando não existe uma classificação, uma relação, inventa! E eu há já vários anos (e suspeito que é ideia partilhada por muitos) que creio que os donos de gatos são pessoas com dadas características e os donos de cães, com outras, contraditórias. Como Cães e Gatos. Urge esclarecer, urge informar. Por isso vão sendo horas de, claramente se perceber qual o perfil psicológico do amante de gatos e de cães. E dilucidar alguns mitos... E isto aplica-se mesmo a quem não tenha cão ou gato. Todos somos, de acordo com o bom princípio da taxomania, sujeitos a classificação.

É preciso compreender os animais em questão para perceber o que atrai os seus donos - qual é o tipo?

Comece-se pelo cão. O cão está sempre lá. É incrível. Está sempre lá. Comece-se pelo sentido figurado e esta afirmação não falha. O cão é o melhor amigo do homem. Pois é. O cão pode até correr risco de vida pelo seu dono. O cão é gregário. O cão é o verdadeiro animal de companhia. O cão tem um psiquismo simples. Obedece.

O dono típico de um cão quer companheirismo. Quer disponibilidade. Quer alguém com quem possa tão depressa correr pela praia como sentar-se a ler um livro com os pés sobre o pelo fofo. O dono de um cão não está para se chatear com psicologias, prefere ter de ir à rua, de vez em quando, passeá-lo. É um momento de descontração, pensa-se na vida. O dono do cão tem um perfil psicológico jovial, simples, sem complicações. Quando há excepções a esta regra ou se desapegam e fartam do seu cão ou infligem-lhe todo o tipo de torturas. É certo como o destino.

O gato é um animal independente. É um ser profundo, meditativo. Um pouco neurótico. O gato, em boa verdade, não tem dono. Tem alguém que o alimenta, que cuida dele e que ele não acha, excessivamente chato. O gato não é um ser gregário. É um individualista. Gosta dos outros, gatos e não gatos, mas com calma. Profundamente. Nada de grandes extravagâncias. Há que ser discreto, sensual. Erótico. Até que deixe de ser tempo de o ser. Um gato é um ser determinado, quando as coisas não vão por bom caminho há que partir a loiça toda (por vezes, como saberão os donos de gatos, literalmente). O gato respeita a solidão. Nunca aparecerá com um osso na boca para brincarmos com ele. Aliás, ninguém brinca com um gato. Nós é que brincamos com eles porque eles, nessa altura, estava francamente entediados. É uma sorte para o gato ter um dono por perto. O gato é um ser de silêncio (exceptuado o cio, bem entendido) ao contrário do cão que é um ser do som. Logo aqui se separam os tipos psicológicos dos donos, criando por vezes grandes problemas. Mesmo o típico e desejado som dos gatos é um som erótico, cúmplice do silêncio. Ronrona, bebé, ronrona... grrrau! Mas divago.

Já há quem tenha dito que quem tem um gato é neurótico. É verdade. Os donos dos gatos são os principais consumidores desses tipo de perturbação. Os donos de cães são muito mais básicos do que isso, preferindo, regra geral, não fruir de patologias psicológicas passando imediatamente para a violência ou boas e velhas doenças do foro físico. O dono de um gato é um ser, tal como o seu gato, meditativo. Pode não o saber mas é. E se o não descobrir a vida com o seu gato poderá ser bastante complicada. O dono de um gato quer algo mais refinado que o dono do cão. Este quer companhia, pura e dura, sem chicuelinas. O dono do gato, que o trate como gato, pois há quem tenhas gatos e os trate como cães, quer partilha. Não precisa de ser uma coisa pegajosa e exigente. Não. É uma coisa espiritual, profunda. O dono do gato, em bom rigor, é um acólito do gato. Todos os gatos são deuses. Ser dono de um gato é uma maneira de ser religioso sem ortodoxia, ser fiel sem liturgia. O dono do gato vive numa tensão entre o respeito pelo espaço, pelo espaço íntimo tão difícil de partilhar e a grande vontade de se dar ao mundo. Neste caso, ao gato.
[...]" Puto Paradoxo

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