A cona das pretas pela Isabela
(com uma curtíssima nota final sobre o falocratas dos tempos modernos)
Os brancos iam às pretas. As pretas eram todas iguais e eles não distinguiam a Madalena Xinguile da Ermina Cachamba, a não ser pela cor da capulana ou pelo feitio da teta, mas os brancos metiam-se lá para os fundos do caniço, com caminho certo ou não, para ir à cona das pretas. Eram uns aventureiros. Uns fura-vidas.
As pretas tinham a cona larga, diziam as mulheres dos brancos, ao domingo à tarde, todas em conversa íntima debaixo do cajueiro largo, com o bandulho atafulhado de camarão grelhado, quando os brancos saíam para ir dar a sua volta de homens, e as deixavam a desenferrujar a língua, que as mulheres precisam de desenferrujar a língua umas com as outras. As pretas tinham a cona larga, mas elas diziam as partes baixas ou as vergonhas ou a badalhoca. As pretas tinham a cona larga e essa era a explicação para parirem como pariam, de borco, todas viradas para o chão, onde quer que fosse, como os animais. A cona era larga. A das brancas não, era estreita, porque as brancas não eram umas cadelas fáceis, porque à cona sagrada das brancas só lá tinha chegado o do marido, e mesmo assim pouco, e com dificuldade, que elas eram estreitas, muito estreitas, portanto muito sérias, e convinha que umas soubessem isto das outras. E limitavam-se ao cumprimento das suas obrigações matrimoniais por procuração, sempre com sacrifício, pelo que a foda era dolorosa, e evitável, por isso é que os brancos iam à cona das pretas. As pretas não eram sérias, as pretas tinham a cona larga, as pretas gemiam alto, porque as cadelas gostavam daquilo. Não valiam nada.
As brancas eram todas mulheres sérias. Que ameaça constituía para elas uma negra? Que diferença havia entre uma negra e uma coelha? Que branco perfilhava filhos a uma negra? Nem as distinguiam! E mesmo que distinguissem... como é que uma negra descalça, de teta pendurada, vinda do caniço a saber dizer, sim patrão, certo patrão, dinheiro patrão, sem bilhete de identidade, sem caderneta de assimilada, podia provar que o patrão era o pai da criança.
Que preta é que queria levar porrada?
[À parte da questão racial é de lamentar que ainda que a escravatura já tenha acabado em certas instituições (que gostam de ser respeitadas na praça pública) continuem a haver falocratas que usam do mesmo tipo de estratagema para se envolverem sexualmente com as mulheres que para eles trabalham. Não querem lá ver que o poder continua a ser um grande afrodisíaco ...]

2 comentários:
Mas o sexo, algum sexo, muito sexo, alimenta-se de poder.
Sabes que este é o texto mais lido no meu blog, através de buscas feitas pelos Google?
No meu também!
Nós aliás discutimos alguns assuntos relacionados com isso na altura.
Bem dita a hora em que eu decidi colocar a nota final.
(Já agora a palavra chave com que o post costuma ser procurado é "cona")
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