29 de outubro de 2005

do Pedro Lomba

Acho que tudo se permite a um político, excepto ser infantil. Na ânsia de atacarem Cavaco Silva com o pânico de uma hipotética presidencialização do regime, que entretanto o próprio já tratou de afastar, as nossas esquerdas não perceberam que estão a transformar o debate político sobre as eleições presidenciais numa disputa banal e infantil. Em vez de discutirem discursos políticos que se contrapõem, criticam comportamentos imaginários do futuro presidente. Em vez de se preocuparem com o que existe, tentam assustar com que na sua cabeça aí vem. Em vez de obrigarem os candidatos a terem ideias, obrigam-nos a conterem-se.

De momento, esse parece-me ser o maior risco que pesa sobre as próximas eleições presidenciais. Se a coisa continuar neste registo em que a política se transforma num içar de fantasmas, será impossível haver qualquer debate entre os candidatos que não passe pelos perpétuos lugares-comuns da "estabilidade", do "optimismo", da "união de todos os portugueses". Confesso que não percebo bem o que é isso da "união de todos os portugueses", um estilismo inútil que tem sido usado várias vezes. Já fiz a minha escolha nestas eleições. Colaborarei, para que não haja dúvidas de clareza, na candidatura de Cavaco Silva. Mas nunca seria por causa da "união de todos os portugueses", uma trivialidade sem sentido, que decidiria o meu voto.

A principal consequência desta escola de pensamento que infantiliza a controvérsia política é que ganhará aquele que menos disser ou, numa segunda alternativa, aquele que acabar por dizer tudo e o seu contrário. Admito que num país dramaticamente dividido entre aquilo que quer e aquilo que pode ter as coisas acabem por se decidir assim. Mas isso não me parece bem. Quero que as próximas eleições presidenciais sejam eleições para adultos.

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